sábado, 26 de dezembro de 2009

SÃO PAULO A CAMINHO DE 2014!

O ministro do Turismo Luiz Barretto aponta os desafios e as prioridades traçadas pelo Ministério do Turismo para que a infraestrutura turística se desenvolva e sirva não só à Copa de 2014, mas que fique como herança aos brasileiros e ao País. “O principal legado de um evento como a Copa é acelerar ações de qualificação profissional e investimentos em infraestrutura.”


Quais são os benefícios da realização da Copa do Mundo no Brasil?

A Copa do Mundo é uma das maiores, talvez a maior oportunidade do turismo brasileiro neste século. É uma grande chance de o Brasil se tornar mais conhecido, dar um salto de qualidade e, ao mesmo tempo, acelerar obras de infraestrutura que talvez, se não fosse a Copa, demorariam mais tempo. O principal legado de um evento como a Copa do Mundo é acelerar ações de qualificação profissional ou investimento em infraestrutura.

E os desafios?

Primeiro há muito planejamento. Esta é a palavra-chave, ter um bom planejamento. Também é preciso atribuir as responsabilidades de cada ente federado, o que é responsabilidade do governo federal, dos governos estaduais, das prefeituras, da iniciativa privada e da FIFA. E, dentro do governo federal, separar as atribuições de cada área, de cada ministério. A Copa será brasileira. Nem alemã nem sul-africana. Isso significa que temos que dialogar com as potencialidades do Brasil, com as virtudes, com as nossas dificuldades de um país em desenvolvimento.

A Copa ajuda, mas não é a panaceia para resolver todos os problemas de uma hora para a outra. Acho que há temas gerais que são fundamentais, como a mobilidade urbana, os transportes públicos, a questão dos aeroportos, das arenas esportivas. Sem arena esportiva, sem uma melhoria na mobilidade urbana, sem um sistema aeroportuário melhor e sem uma rede hoteleira adequada, você não tem uma boa Copa do Mundo. Em relação ao turismo, há quatro temas fundamentais: hotelaria, qualificação profissional, promoção e infraestrutura.

Começando pela hotelaria, o que há para ser feito?

O Ministério do Turismo não constrói hotel nem faz gestão direta de hotéis. A contribuição que podemos dar são as linhas de financiamento. Estamos discutindo com o BNDES para avançar com isso, para que possamos ter uma linha de financiamento para a reforma e a ampliação do atual parque. E não é só ter crédito e juros baratos, é fundamental permitir o acesso ao crédito.

As regiões Sul e Sudeste do País precisam mais de reforma e modernização do atual parque hoteleiro do que de ampliação.

E como se resolve o problema de acesso ao crédito?

Há muita dificuldade em se obter financiamento. Como o turismo é feito por pequenas e médias empresas, você muitas vezes tem a linha mas não dá condições de acesso, portanto, o que estamos tentando é uma engenharia financeira que conjugue o juro baixo com prazo mais dilatado de pagamento. Queremos que o pequeno e médio empreendedor hoteleiro, o dono de pousada, possa ter acesso.

Temos que vincular a questão do financiamento com qualidade e ter uma contrapartida mínima de classificação, de certificação, e pensar no tema da sustentabilidade ambiental e econômico-financeira. Ninguém vai sair construindo hotel onde não há viabilidade econômica.

Em tudo que se pensa para a Copa é muito mais importante pensar no pós-Copa do que durante a Copa, pois o fundamental para nós é saber o que exatamente de herança, de legado ficará.

Tudo o que se fizer nos aeroportos, tudo o que melhorar nos transportes públicos, na qualidade da hotelaria, fica para os moradores, fica para os brasileiros.

Quais são as metas para a qualificação profissional?

Temos que aproveitar a Copa para acelerar a capacitação do nosso receptivo, dos trabalhadores que lidam direta ou indiretamente com o turismo: guias de turismo, taxistas, garçons, recepcionistas, policiais, guardas municipais, barraqueiros, artesãos...

Um destaque especial em relação a 2014 é a questão de idiomas: inglês e espanhol. Há que se aproveitar para dar um salto qualitativo e quantitativo também. Não estou falando em mestrado ou doutorado em outros idiomas, mas pensando em noções básicas que possam significar uma interação do turista com esses setores. Cardápios em inglês e espanhol são importantes e que o garçom possa manter uma conversa básica com o cliente.

Pensando no setor de feiras, que os caixas eletrônicos possam atender em inglês e espanhol também, que os sistemas de segurança municipais possam ter um destacamento para receber turistas nas 12 sedes e que falem coisas básicas do espanhol e do inglês. Então acho que podemos pensar em parceria com o trade, com a hotelaria e com os setores do turismo, para depois identificar as demandas de cidade por cidade. Tudo tem que ser muito pautado pela iniciativa privada, porque as cidades têm necessidades diferentes. A demanda em São Paulo é diferente da do Rio de Janeiro, da de Cuiabá, da de Natal. Para identificar essas diferenças estamos em diálogo permanente com as entidades do trade.
Temos uma meta de treinar 300 mil pessoas até 2014.

E já temos algo em andamento?

Em agosto começaram as aulas de inglês em espanhol no Rio de Janeiro e em Manaus. O curso será à distância, ministrado pela Fundação Roberto Marinho. Com esse piloto vamos fazer os ajustes necessários para estender os cursos para as outras dez cidades-sedes da Copa.

Quando pensamos em qualificação, pensamos sempre nos 65 destinos indutores. Para o turismo, a Copa não ocorrerá apenas nas 12 cidades. Quem vai à sede Rio de Janeiro pode ir a Angra, Parati, Búzios, Petrópolis. Quem vai a Belo Horizonte pode ir a Ouro Preto, Tiradentes. Quem vai a São Paulo pode ir à Baixada Santista, ao litoral norte, a Campos do Jordão. Quem vai a Porto Alegre pode ir a Gramado. O Ministério do Turismo tem que potencializar isso por meio da qualificação. Nossa meta é dotar os 65 destinos de um bom padrão de qualidade de atendimento até 2014.

E o que pensa em relação à promoção turística?

A Embratur terá um papel muito importante ao adaptar o Plano Aquarela para as oportunidades que um evento como a Copa traz. Vincular a imagem do Brasil à Copa vai tornar o Brasil mais conhecido, o que deve ser encarado como meta. Serão bilhões de pessoas que vão assistir aos jogos pela TV, o que dá muita projeção.
Temos que pensar na Copa dentro e fora dos estádios. A Copa fora dos estádios é até mais importante porque reunirá muito mais pessoas. Além disso, há que se pensar que a Copa não ocorre só em 2014. As oportunidades de promoção começam em julho de 2010, quando se encerrar a Copa na África do Sul. O planejamento é para quatro anos e para o pós-Copa, para tentarmos manter a exposição.

É uma grande oportunidade de projeção de uma imagem de Brasil, não?

Esta é uma questão muito importante. Que imagem o Brasil quer projetar para a Europa, para os Estados Unidos? Penso que a de um país moderno, sofisticado, dono de uma grande economia que tem a Embraer, a Petrobrás, que tem um turismo com vários segmentos, várias portas de entrada, belezas naturais, e também de um país de negócios. Que imagem de complexidade queremos passar?

Sobre o desafio da infraestrutura, o que temos de fazer no turismo?

Temos de melhorar os centros de convenções nos 65 destinos indutores para potencializar eventos antes, durante e depois da Copa. Melhorar a sinalização turística é fundamental, ter projetos que recuperem o patrimônio histórico.
Há intervenções em Olinda, em Parati, no Pelourinho, em monumentos ícones de Ouro Preto, Tiradentes, Salvador, São Paulo. É preciso potencializá-los como produtos turísticos para que sejam mais aproveitados.

Há que se melhorar as condições de acesso aos produtos turísticos, por exemplo, um destino que tenha uma estrada, uma pequena estrada que esteja ruim, é o caso de arrumar a estrada, de sinalizar.

Há outras ações para melhorar a infraestrutura das nossas orlas. Entregamos recentemente a orla de Maceió, estamos trabalhando na praia de Boa Viagem, em Recife, estamos trabalhando em Salvador.

É preciso pensar que as rodoviárias, por exemplo, são portas de entrada muito importantes para o turismo interno. Há também os aeroportos regionais. É provável que um dos 65 destinos, para ser mais atraente em 2014, tenha que ter um aeroporto. Estamos fazendo aeroporto regional em Aracati e Camocim, no Ceará. No Piauí, estamos inaugurando um aeroporto regional em Parnaíba.

Na Bahia já há um conjunto de aeroportos regionais que potencializa o turismo local, então deve-se pensar um pouco isso nos outros Estados.
E como financiar estes investimentos, ministro?

Para infraestrutura, a principal origem dos recursos será o Prodetur. Hoje, há uma linha de crédito de US$ 1 bilhão de financiamento. Estamos pedindo a extensão dessa linha em mais US$ 1 bilhão. Este valor seria usado para integrar as 12 cidades e as regiões turísticas.

É preciso possibilitar que as capitais que serão sedes possam entrar diretamente no Prodetur, sem a intermediação dos Estados, e permitir que os Estados que não entraram possam entrar.

O Prodetur é uma linha de financiamento com 20 anos de prazo de pagamento e juros baixos – muito vantajosa.
Sabemos que há outras ações importantes para o turismo que escapam à esfera de atuação exclusiva do MTur. Como está a relação com outros Ministérios e órgãos do Governo Federal em ações conjuntas?

Há um grupo de trabalho no Governo Federal do qual o Ministério do Turismo participa ativamente. O sistema aeroportuário, o sistema de mobilidade urbana e as arenas são os três grandes temas de que vamos tratar lá.
Em relação às arenas esportivas, o Governo Federal poderá ajudar, mas não haverá dinheiro direto do Orçamento Geral da União para estádios. Poderemos ajudar nos mecanismos de financiamento das arenas.

No tema da mobilidade é importante dizer também que vamos querer apoiar obras diretamente ligadas à Copa. Uma linha de metrô que integre o aeroporto com a arena e a rede hoteleira, por exemplo. Participaremos junto com os Estados na aceleração destas obras.
Temos que ter um plano específico para os aeroportos para resolver o que exatamente é gargalo para 2014.

Há muita coisa que o PAC já está fazendo. As obras na maioria dos aeroportos já estão no PAC, independentemente da Copa. Devemos aproveitar a Copa para poder ter um receptivo nas sete cidades-sedes que têm porto. Os navios podem ser uma complementação do sistema de acomodação. Então vamos trabalhar com os navios ancorados, já funcionou assim em Sidney, em Atenas, e pode funcionar aqui no Brasil.

E o diálogo com Estados e cidades-sedes?

Tenho certeza de que vamos ter um bom diálogo com prefeitos e governadores. Passou aquela fase da competição entre as cidades, agora já temos as 12 sedes escolhidas pela FIFA.

Agora é um diálogo realista, e é lógico que o Governo Federal não vai se eximir. O eventual fracasso de uma cidade é o fracasso do Brasil. Vamos fazer todos os esforços para termos uma grande Copa do Mundo, mas com parcerias e responsabilidades muito bem estabelecidas.

Falando em sedes, o ministro tem alguma preferência para a abertura da Copa?

Penso que o mais racional seria ter a final no Rio de Janeiro e a abertura em São Paulo, que são hoje os dois principais centros comerciais, industriais e futebolísticos do País.
Gostou da escolha das sedes? Foi boa para o turismo?

Eu acho que as sedes da Copa retratam bem o Brasil. Você tem Cuiabá no centro, o Pantanal, Manaus na Região Norte, você tem Brasília no centro, quatro cidades do litoral nordestino, Sul e Sudeste. O Brasil está todo representado. Acho que isso é um desenho que facilita o turismo brasileiro, facilita a consolidação de um Brasil com várias portas de entrada, de um Brasil que não está restrito ao Rio de Janeiro.

Há que se ter um projeto integrado para o Nordeste. Você já tem Salvador, Recife, Natal e Fortaleza como sedes e poderia envolver outras cidades como João Pessoa, Aracaju, Maceió que estão no “meio do campo”.

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